[oleo-l] biodiesel X energia

José Antonio Dermengi Rios rios em fea.unicamp.br
Domingo Junho 17 11:10:05 BRT 2007


Prezado colega Serrano Neves
Saudações sócio-ambientais
Prezados colegas,
O assunto energia, biodiesel incluso, é realmente empolgante por ser
transdisciplinar e permitir um número quase infinito de abordagens.
No entanto não podemos nos desobrigar de obedecermos à regras como
 do mais geral para o mais específico, do inicial para o final, da
causa para o efeito.
Há também de se respeitar as claras e objetivas divisões entre as
diferentes áreas do conhecimento, sem prejuízo à
transdisciplinaridade.
Assim sendo, é fundamental emprestarmos o ceteris paribus da
economia em nossas discussões e como diz a canção sonhar é bom mas
sonhar acordado é...., bem esqueci o resto da frase da música.
Os modelos de negócio são efeito de uma economia, que por suas vez é
resultado de uma escala de valores social e aceita por ela como
ordenamento social.
A única economia existente no Brasil é a neoliberal, assim como na
Inglaterra e em boa parte do mundo e por isso não tem novidade na
constatação do declínio do ensino e o crescimento do
assistencialismo.
Para este sistema funcionar é necessário apenas que pessoas comuns
sejam devidamente treinadas a executar tarefas e obedecer.
Quaisquer semelhanças com comentários veiculados pela rede Globo
contra greves e aposentadorias ou mesmo contra o estado não são mera
coincidência.
Não há nenhuma "novidade" na forma de gestão privada de patrimônio
público, pois são descritas há décadas na literatura e aplicada em
outros países pelos  Ecodesenvolvimentistas, Pigouvianos (década de
20), Neoclássicos e Economistas ecológicos.
Finalmente falta comprovação prática a centenas de milhares de
estudos entre os quais de Folke Gunther para que sejam a base de uma
economia do biodiesel que contribui para a economia agregada dos
pequenos, principalmente para atender à desconcentração urbana.
Lembro que oara tal é necessário comprovação pratica das respostas
às seguintes perguntas:
1. Existe alguma cooperativa no agronegócio óleo ou ela é
completamente dominada por transnacionais como Cargill?
2. Existe algum micro ou pelo menos médio produtor de álcool ou são
todos conglomerados e trasnacionais?
3. Existem casos comprovados no Brasil de agricultores familiares de
subsistência que se cooperaram e hj são concorrentes no mercado?

-- 
Abraços e sucessos!
Prof. Dr. José Antonio Dermengi Rios
cel.: +55-19-9112.8002


On Sun, June 17, 2007 08:57, =?ISO-8859-1?Q?Instituto Serrano
Neves?= wrote:
: Formação do COMITÊ DA BACIA DO ALTO TOCANTINS
: http://www.serrano.neves.nom.br/conBSB/conBSB.htm
:
: Prezado José Antônio
: e demais colegas da lista,
:
: ontem (sábado) pela manhã ministrei um mini-curso de
Responsabilidade Sócio-ambiental e não me foi estranho que a
totalidade dos presentes nunca tivesse lido os 10 primeiros artigos
da Constituição da República dos quais emergem a função social da
propriedade.
:
: Comecei o desenvolvimento em sócio-ambientalismo a partir das
"environmental commodities" e esbocei um modelo de participação nas
cadeias produtivas, substitutivo do modelo de figuração como
elemento de produção. Algo assim como o Sr. Antônio Ermírio passando
de carro na rua e reconhecendo e cumprimentando os catadores de
latinha de alumínio.
:
: Realmente um sonho, mas um caminho possível.
:
: O grande nó que enfrentei - e enfrento - é o tal do "modelo de
negócio".
:
: Não sou contra o capital e o lucro, antes, sou tão a favor que
caminho para finalizar o trabalho sobre "ativos e passivos
sócio-ambientais" como modelo patrimonial para as empresas lidarem
com a função social da propriedade sem temor de perdas e com ganhos
reais, ou seja, não crio conflito com o "modelo de negócio", apenas
sugiro um mecanismo de formalização de práticas correntes de
responsabilidade empresarial ainda atreladas ao marketing.
:
: A única "novidade" é a forma de gestão privada de patrimônio
público. Não é terceirização, não é parceria público-privada, nem
delegação. É simplesmente a expressão constitucional da função
social da propriedade.
:
: Difícil, muito difícil, pois os parceiros de desenvolvimento dos
quais necessito para dar credibilidade técnica na área de economia e
finanças são aferrados ao "modelo de negócios", e não consigo
concluir a parte do balanço e dos fundos de participação.
:
: Há um novo "modelo de negócio" no biodiesel, mas não penso em uma
economia marginal para os pequenos, e sim em uma economia agregada
para aqueles que, dentro do clássico "modelo de negócio" são
destinatários naturais apenas dos benefícios ou assistência que os
impostos arrecadados com o novo modelo possam gerar.
:
: Recebi, faz  uns minutos, dois textos de jornais ingleses que
retratam o declínio do ensino e o crescimento do assistencialismo,
com o resultado de sobrecarga no sistema produtivo na forma de
aumento dos impostos, e isto, vendo o Brasil, me parece ser
resultado do "modelo de negócio".
:
: Dai a minha insistência em que a economia do biodiesel pode
contribuir para a economia agregada dos pequenos, principalmente
para atender à desconcentração urbana conforme os estudos de Folke
Gunther (Human Ecology - Ruralisation, em
http://www.holon.se/folke/index.shtml).
:
: Saudações sócio-ambientais
: Serrano Neves
: serrano em serrano.neves.nom.br
:
: Amigo do Lago da Serra da Mesa
: http://www.serrano.neves.nom.br
:
:
:
: ------------- Segue mensagem original! -------------
:
: De: José Antonio Dermengi Rios <rios em fea.unicamp.br>
: Data: Sat, 16 Jun 2007 09:27:46 -0300 (BRT)
: Para: oleo-l em rumba.ufla.br
: Assunto: Re: [oleo-l] biodiesel X energia
:
:
: Prezado Colega Serrano Neves
: Saudações sócio-ambientais,
: Prezados demais colegas,
:
: Os biocombustíveis deverão ser sempre importantes, mas na forma
: atual  representam apenas mais um item na economia do Carbono até a
: chegada da economia do Hidrogênio.
: Atualmente consistem numa troca de 6 por meia dúzia, fóssil por
: agrícola, sem necessidade de investimentos nas novas tecnologias do
: H2, uma manutenção dos padrões atuais da indústria de automóveis com
: seus motores a combustão interna. Mais detalhes no estudo do MIT
: publicado como livro em: A Máquina que mudou o mundo.
: Para o Brasil resta ter de definir quais, quanto e onde investir
: recursos neste novíssimo e inédito agronegócio.
: Um dos resultados será degradar o meio ambiente, inclusive
: antrópico, pra ficar com as migalhas de um produto primário de pouco
: valor agregado.
: Finalmente, o modelo de negócio do biodiesel depende da resposta à
: questões como:
: 1. Existe alguma cooperativa no agronegócio óleo ou ela é
: completamente dominada por transnacionais como Cargill?
: 2. Existe algum micro ou pelo menos médio produtor de álcool ou são
: todos conglomerados e trasnacionais?
: 3. Existem casos comprovados no Brasil de agricultores familiares de
: subsistência que se cooperaram e hj são concorrentes no mercado?
:
: Abraços e sucessos!
: Prof. Dr. José Antonio Dermengi Rios
: cel.: +55-19-9112.8002
:
:
: Comentário aos e mails do Dr Serrano
: 1. Não há evidências de que 2% venha a ser um padrão de crescimento
: no uso do biodiesel, nem se 2% é bom ou ruim, imaginário ou
: fictício.
: 2. Não há nenhuma evidência de que, quem decide sobre os futuros do
: planeta, considere a análise da questão do uso de combustíveis (e
: outras energias)em função da carga que a humanidade exerce sobre o
: planeta.
: 3. Embora o consumo de recursos não renováveis tem um fim e o
: consumo de recursos renováveis tem ciclos de renovação que desafia
: os tempos humanos, não é este o caso da maioria dos recursos
: renováveis de pedra a ouro, passando pelo petróleo, mas sobre o qual
: existe uma série de hipóteses como a Hubert. Não esqueça do alerta
: de Lord Keynes: no futuro todos estaremos mortos por isso pensemos
: no agora e no curto prazo de nossas vidas.
: Para minha surpresa li matéria nesta sexta no Valor Econômico dando
: conta de que há mais de um século de petróleo viável dentro da
: economia atual nas reservas de xisto dos EUA bem como no Brasil que
: tem uma das maiores reservas de xisto do mundo, tudo isso a um custo
: ambiental enorme, mas veja item 1 acima.
: 4. Concordo com V. Sa. de que a maior verdade em questão é que a
: mudança do combustível fóssil para o renovável pouco resultado
: produzirá - ainda que realizada na totalidade - se não forem mudados
: os padrões de consumo, mas isto não significa parar de consumir, mas
: produzir menos energia degradada.
: Para se ter uma idéia:
: - o lixo urbano produzido pelos seres humanos varia de 0,7 até 1,5
: kg, dependendo do padrão de consumo.
: - apenas <1% do total é água doce disponível, embora precisemos de
: 2.000 metros cúbicos por pessoa/ano.
: - 26 países, abrigando 250 milhões de pessoas, já foram oficialmente
: declarados pela ONU como áreas de escassez crônica de água.
: 5. Gostaria de receber uma cópia do "Consenso da América Latina"
: apresentado na IV Bienal Internacional de Estudos Avançados sobre
: Energia, que aconteceu na FEA-UNICAMP em 2004, sobre o qual
: deconhecia a importância mesmo sendo professor da FEA.




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