[oleo-l] biodiesel X energia

Instituto Serrano Neves serrano em serrano.neves.nom.br
Domingo Junho 17 08:57:04 BRT 2007


Formação do COMITÊ DA BACIA DO ALTO TOCANTINS
http://www.serrano.neves.nom.br/conBSB/conBSB.htm

Prezado José Antônio
e demais colegas da lista,

ontem (sábado) pela manhã ministrei um mini-curso de Responsabilidade Sócio-ambiental e não me foi estranho que a totalidade dos presentes nunca tivesse lido os 10 primeiros artigos da Constituição da República dos quais emergem a função social da propriedade.

Comecei o desenvolvimento em sócio-ambientalismo a partir das "environmental commodities" e esbocei um modelo de participação nas cadeias produtivas, substitutivo do modelo de figuração como elemento de produção. Algo assim como o Sr. Antônio Ermírio passando de carro na rua e reconhecendo e cumprimentando os catadores de latinha de alumínio.

Realmente um sonho, mas um caminho possível.

O grande nó que enfrentei - e enfrento - é o tal do "modelo de negócio".

Não sou contra o capital e o lucro, antes, sou tão a favor que caminho para finalizar o trabalho sobre "ativos e passivos sócio-ambientais" como modelo patrimonial para as empresas lidarem com a função social da propriedade sem temor de perdas e com ganhos reais, ou seja, não crio conflito com o "modelo de negócio", apenas sugiro um mecanismo de formalização de práticas correntes de responsabilidade empresarial ainda atreladas ao marketing.

A única "novidade" é a forma de gestão privada de patrimônio público. Não é terceirização, não é parceria público-privada, nem delegação. É simplesmente a expressão constitucional da função social da propriedade.

Difícil, muito difícil, pois os parceiros de desenvolvimento dos quais necessito para dar credibilidade técnica na área de economia e finanças são aferrados ao "modelo de negócios", e não consigo concluir a parte do balanço e dos fundos de participação.

Há um novo "modelo de negócio" no biodiesel, mas não penso em uma economia marginal para os pequenos, e sim em uma economia agregada para aqueles que, dentro do clássico "modelo de negócio" são destinatários naturais apenas dos benefícios ou assistência que os impostos arrecadados com o novo modelo possam gerar.

Recebi, faz  uns minutos, dois textos de jornais ingleses que retratam o declínio do ensino e o crescimento do assistencialismo, com o resultado de sobrecarga no sistema produtivo na forma de aumento dos impostos, e isto, vendo o Brasil, me parece ser resultado do "modelo de negócio".

Dai a minha insistência em que a economia do biodiesel pode contribuir para a economia agregada dos pequenos, principalmente para atender à desconcentração urbana conforme os estudos de Folke Gunther (Human Ecology - Ruralisation, em http://www.holon.se/folke/index.shtml).

Saudações sócio-ambientais
Serrano Neves
serrano em serrano.neves.nom.br

Amigo do Lago da Serra da Mesa 
http://www.serrano.neves.nom.br



------------- Segue mensagem original! -------------

De: José Antonio Dermengi Rios <rios em fea.unicamp.br>
Data: Sat, 16 Jun 2007 09:27:46 -0300 (BRT)
Para: oleo-l em rumba.ufla.br
Assunto: Re: [oleo-l] biodiesel X energia


Prezado Colega Serrano Neves
Saudações sócio-ambientais,
Prezados demais colegas,

Os biocombustíveis deverão ser sempre importantes, mas na forma
atual  representam apenas mais um item na economia do Carbono até a
chegada da economia do Hidrogênio.
Atualmente consistem numa troca de 6 por meia dúzia, fóssil por
agrícola, sem necessidade de investimentos nas novas tecnologias do
H2, uma manutenção dos padrões atuais da indústria de automóveis com
seus motores a combustão interna. Mais detalhes no estudo do MIT
publicado como livro em: A Máquina que mudou o mundo.
Para o Brasil resta ter de definir quais, quanto e onde investir 
recursos neste novíssimo e inédito agronegócio.
Um dos resultados será degradar o meio ambiente, inclusive
antrópico, pra ficar com as migalhas de um produto primário de pouco
valor agregado.
Finalmente, o modelo de negócio do biodiesel depende da resposta à
questões como:
1. Existe alguma cooperativa no agronegócio óleo ou ela é
completamente dominada por transnacionais como Cargill?
2. Existe algum micro ou pelo menos médio produtor de álcool ou são
todos conglomerados e trasnacionais?
3. Existem casos comprovados no Brasil de agricultores familiares de
subsistência que se cooperaram e hj são concorrentes no mercado?

Abraços e sucessos!
Prof. Dr. José Antonio Dermengi Rios
cel.: +55-19-9112.8002


Comentário aos e mails do Dr Serrano
1. Não há evidências de que 2% venha a ser um padrão de crescimento
no uso do biodiesel, nem se 2% é bom ou ruim, imaginário ou
fictício.
2. Não há nenhuma evidência de que, quem decide sobre os futuros do
planeta, considere a análise da questão do uso de combustíveis (e
outras energias)em função da carga que a humanidade exerce sobre o
planeta.
3. Embora o consumo de recursos não renováveis tem um fim e o
consumo de recursos renováveis tem ciclos de renovação que desafia
os tempos humanos, não é este o caso da maioria dos recursos
renováveis de pedra a ouro, passando pelo petróleo, mas sobre o qual
existe uma série de hipóteses como a Hubert. Não esqueça do alerta
de Lord Keynes: no futuro todos estaremos mortos por isso pensemos
no agora e no curto prazo de nossas vidas.
Para minha surpresa li matéria nesta sexta no Valor Econômico dando
conta de que há mais de um século de petróleo viável dentro da
economia atual nas reservas de xisto dos EUA bem como no Brasil que
tem uma das maiores reservas de xisto do mundo, tudo isso a um custo
ambiental enorme, mas veja item 1 acima.
4. Concordo com V. Sa. de que a maior verdade em questão é que a
mudança do combustível fóssil para o renovável pouco resultado
produzirá - ainda que realizada na totalidade - se não forem mudados
os padrões de consumo, mas isto não significa parar de consumir, mas
produzir menos energia degradada.
Para se ter uma idéia:
- o lixo urbano produzido pelos seres humanos varia de 0,7 até 1,5
kg, dependendo do padrão de consumo.
- apenas <1% do total é água doce disponível, embora precisemos de
2.000 metros cúbicos por pessoa/ano.
- 26 países, abrigando 250 milhões de pessoas, já foram oficialmente
declarados pela ONU como áreas de escassez crônica de água.
5. Gostaria de receber uma cópia do "Consenso da América Latina"
apresentado na IV Bienal Internacional de Estudos Avançados sobre
Energia, que aconteceu na FEA-UNICAMP em 2004, sobre o qual
deconhecia a importância mesmo sendo professor da FEA.


_______________________________________________
oleo-l mailing list
oleo-l em rumba.ufla.br
http://rumba.ufla.br/mailman/listinfo/oleo-l






Mais detalhes sobre a lista de discussão oleo-l